terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ao Tom

Sonhei contigo, Tom Jobim... 
Fumava um charuto 
me dava conselhos,
alguns tolos, 
outros mais relevantes.

Ria da chuva
Chuva boa criadeira

explicava o arado das estrelas
os sonhos doutrora
de agora.

"Olha"
me pedia atenção 
para ouvir o canto do passarim...
Acordei sabiá,

cantarolando seus sambas,
o sol na janela, 

pedindo um banho de mar.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Bebodosamba

Bebodosamba
Vi Paulinho cantar
num verso de viola
que nem sei ao certo
 explicar
de certo, o verbo
em que o samba faz
e desfaz
o que demos sentido
ao amar.

De fato Paulinho,
Bêbado do samba.

Musa

nas figueiras ao lado da igreja

Musa,
Deixa eu
Descobrir teus moentes
Desbravar tuas cordilheiras
Acordar teu mar
Revoltar tuas melenas
Já que vens de Atenas
Deixa moça
circundar tua linha Alba
Minha linha do Equador
Deixa moça?
Deixa musa...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Essa mulher

Quem é mulher que me anoitece
me inunda feito rio
quando seu sexo enaltece

quem é essa mulher que chupa
fruta madura do meu desejo
esfregando sua vulva

Quem é essa mulher
que como gato me põe a miar
em sua divida
me alitera mar

Digam-me quem é essa mulher
loba, poetisa e sem vergonha
que faz do seu corpo
um verdadeiro pomar.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Soneto a Neruda

Tempo abriu vagarosamente
Neruda me sorriu versos,
"esqueçamos generosamente 
aqueles que não podem nos amar"

Trago um samba na mente
peito aberto feito mar
remo ao inverso
no sentido reamar.

Não choro mazelas
a cada um cabe a parcela
do que quer cativar.

este soneto é pra ti Neruda
que me ensinou e ensina
que há 100 maneiras de amar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

o samba infecta
tipo bactéria
e agora
todo batuque
de mão
viola de dedos
chorinho
faz a matéria
agitar

um iorubá
que o couro diz
a viola traduz
e o gingado alitera
psiu...
escuta:
samba do teu coração

baticum
ziriguidum
baticum
ziriguidum

vem de longe
angola
congo
bahia da alma,
o sangue samba bem
o pretume na cor
samba coração também.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A onda me fez
ela é o mar
das certezas de tanto faz.

Ela é do mar
e os olhos que me guiam
pro itinerante cais

A onda que a fez
trouxe nas conchas
meu destino roubar.

Morena Maria da Cal

Lua anda beija mar
Maria de branca da renda,
embaixo dessa saia
quero fazer meu lar
Achar meus segredos
que a maresia faz anuviar.

A onda dos olhos-caqui
desponta o morro abissal
descobrem teus sambaquis
Morena Flor da Cal.

Lua anda
Beira beija lua
beira beija mar.

sábado, 30 de maio de 2015

no violão
em que o mar
faz canção
as ondas das cordas
fale e não mude
 no horizonte
em que deslumbram os teus
dons
tens?
em que transatlântico que que
vais a Itália?
a confusão da minha professora
e a tua cerveja.
o fio do sol
que prende teu sorriso
reconvexo
da música
machê
pra quê?


o fio dos olhos da índia

o cachorro é meu
o poema é teu
o samba doutrora
em que rima
com tuas esquinas
nossas desventuras.
sofra da doença da morte
das palavras que tens
sou rei

no verbo me criei
durmo na canção
e navego no teu coração

na corredeira negra
rio dalma
em que entra em tempestade
quando estamos só

sofro da doença da morte
na queixa da vida
em que a morte
se resume ser
em ter
só morte.
enquanto
o canto
é só palavra
amor é encanto.

minhas rimas doutrora
fez samba pra senhora
sem pressa nem medo
em teu amar
arvoredo
o rio que devolve o mar
canta nosso enredo.

em quanto 
enquanto?
por hora sou
estou
só.
o ar frio que percorrem
o meu samba
traz você

dói demais
sentir.

o sol que traz em ti
me dá frio
sério.

o sol que traz em ti
quando dorme nas nuvens
e provoca meu francês
c' la vie
do fluxo
vamos tomar um banho de mar?
vem!
quando o mar se abre em renda
e o seu vestido me prende
beija
a lua nua acorda ondas

vem tomar um banho de mar
quando as rochas tentam ser navios
e o itinerante seja aqui
a e ilha sem só lobos.

tomamos um banho de amar
que mar...
que veio esplêndido
majestoso.
na trama em que estava dormindo.

a praia se abre
a cal se aumenta
o mar é meu amar
transcende ondas
acende brumas.
enquanto o escorpião percorre o céu
e as bocas amargas da terra
pedem amor
eu fico mudo
cavalgo nos medos
da próxima história

o escorpião pinta celeste
e eu, sendo poesia,
querendo que o cafundó
das estrelas
percorram minhas veias

Minhas veias foram estrelas
e meu coração um céu aberto
nas pálidas calçadas
em que tua forma
entorna samba

a vida é simples
no teu cigarro
no teu cabelo
no teu,
teu?

quarta-feira, 20 de maio de 2015

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Colóquio do Tempo

Ela perguntaria. Você perguntaria? Não sei. Ela pergunta que vai chover.
Eu titubeei, e ele responderia numa outra pergunta. Ele responde numa outra pergunta, quiça?
Ela conhece o tempo como ninguém, como se comporta o vento, como a lua mostra seu franco, como o mar exibe seu vestido.
Você diria que iria chover, mas ela sabe que não vai chover, a pergunta era uma pedra que espera o mar a banhar todos os dias, um espinho atravessado na garganta, a concha desgarrada do molusco ou apenas uma pergunta sendo pergunta.
Eu sei que não. Ela responde que acha que não chove.
Ele responde se chover que seque meu coração que está no varal.
Ela não ri, ele riria, ela chora, você só olha, sem saber o que fazer e eu olho a onda que insiste em vestir a pedra que faz sua reza beira-mar.
Meu amor olha pro céu
aquela nossa estrela caiu
Deixou um vazio no espaço
Outra estrela surgiu
E desfez nosso laço

Ao largo do paço
o escorpião translada
a constelação caça
e nada não passa
de uma grande trapaça.

o amor é maior que os amantes

O amor é maior que os amantes
Por mais que tentamos conter o mar
flutua ondas brumosas
detona-se em branca renda.

Mar é sábia imensidão
Assim como o amor que transita
formas que suplicam
apenas atenção.

Neste vale, onde lágrimas de chuvas
formaram correnteza,
trouxe as flores de certezas doutrora.

Maré vento
quando acolhe a chuva
Colhe as lágrimas
para regar a flor do amar.


segunda-feira, 4 de maio de 2015

A estrela culmina no céu 
da boca da terra
ela arde espelho
lilás pôr do sol
quando o debruçar de Deus
Montanha floresce

A flor que traz no cabelo
colhi na beira do rio
na chuva me encontrei
O céu azul mancou
no barro intacto

A correnteza deste mar
aberto
me infla vela
me corre areia
e eu com a flor e com a estrela
deixo a lua me levar.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

samba meu

O meu samba rasgado
sabe tudo,
O meu samba soluça
poema de outrora
acredite,
meu samba não depende de você.

Já diria João Gilberto
Saudade fez um samba em seu lugar,
E por mais que o meu samba
seja ateu
culpa pode ser sua
dor pode ser minha
O samba é meu.



segunda-feira, 20 de abril de 2015

Garuda
pássaro do sol
Adormece no Himalaia
No outono.
Pena por pena
ele se despe
quebra o bico e garras
nas pedras
E ali, nu permanece
como um monge
desapega da sua proteção
Indefeso.
Aos poucos, os raios de sol
tornam a vesti-lo
e o bico e garras
nascem ouro.
Garupa é o Sol do Himalaia

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Acredito que o amor
seja uma borboleta
enche o ventre
colore o olhos
percorre os trilhos sentidos

Creio que o amor
seja uma borboleta
dessas de asas vitrais
preenche nosso mar
desagua nossa alma

Compreendo que o amor
seja uma borboleta
sabe-se que para sê-la
é preciso se transformar.


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Chuva

No sábado foi início de um novo ano.
Com a minha alma aberto, na expectativa de que o clima colaborasse, e pela manhã tive uma falsa esperança que o tempo ia firmar, a chuva iria para o mar, as estrelas seriam pontos luminosos para uma nova rota e uma lua enfeitaria o colo da galáxia com a melodia do mar.
A chuva iniciou logo após o meio dia e não parou mais. Embora houvesse fissuras entre as nuvens e o sol aparecesse tímido, como uma criança que se esconde atrás das cortinas na expectativa que alguém o surpreenda e surja um sorriso na face. E minha mãe revelou uma coisa que até então não sabia, quando nasci chovia bastante, na terça de carnaval.
As nuvens vestiu a tarde e a noite e chuva as cobriu de renda.
A água delicadamente caiu, gota por gota, lágrima por lágrima, minuciosamente como fino tecido, molhou a grama, lavou os telhados e ruas, regou as plantas, fez correnteza para barcos listrados, tripulados de letras, arrancou risos de infantes, folha pautada de caderno velho. A chuva banhou o casal apaixonado e improvisou o beijo perdurando segundos de eternidade, foi trilha sonora para o sonho dos inquietos.
As águas abençoaram meu ano novo, como um batismo, lavando o caminho, abrindo novas rotas, dando movimento às pedras, aos fluidos e energias estagnadas no vão do tempo.
Não tem como não lembrar da 'Cantando no Toró' do Chico Buarque :
'Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar o que tem e o que não tem
Tocando a bola no segundo tempo
Atrás de tempo, sempre tempo vem
Sambando na lama, amigo, e tudo bem'
E que seja assim, abundância de chuva para que molhe a terra da criatividade e que brote novos projetos. Que crie correntezas para remover pedras do caminho e que abra novas possibilidades, que meu ano seja inundado de coisas boas, de aprendizagens, com a certeza que depois da tempestade vem a bonança.
Muita chuva a todos nós!