segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Chuva

No sábado foi início de um novo ano.
Com a minha alma aberto, na expectativa de que o clima colaborasse, e pela manhã tive uma falsa esperança que o tempo ia firmar, a chuva iria para o mar, as estrelas seriam pontos luminosos para uma nova rota e uma lua enfeitaria o colo da galáxia com a melodia do mar.
A chuva iniciou logo após o meio dia e não parou mais. Embora houvesse fissuras entre as nuvens e o sol aparecesse tímido, como uma criança que se esconde atrás das cortinas na expectativa que alguém o surpreenda e surja um sorriso na face. E minha mãe revelou uma coisa que até então não sabia, quando nasci chovia bastante, na terça de carnaval.
As nuvens vestiu a tarde e a noite e chuva as cobriu de renda.
A água delicadamente caiu, gota por gota, lágrima por lágrima, minuciosamente como fino tecido, molhou a grama, lavou os telhados e ruas, regou as plantas, fez correnteza para barcos listrados, tripulados de letras, arrancou risos de infantes, folha pautada de caderno velho. A chuva banhou o casal apaixonado e improvisou o beijo perdurando segundos de eternidade, foi trilha sonora para o sonho dos inquietos.
As águas abençoaram meu ano novo, como um batismo, lavando o caminho, abrindo novas rotas, dando movimento às pedras, aos fluidos e energias estagnadas no vão do tempo.
Não tem como não lembrar da 'Cantando no Toró' do Chico Buarque :
'Cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar o que tem e o que não tem
Tocando a bola no segundo tempo
Atrás de tempo, sempre tempo vem
Sambando na lama, amigo, e tudo bem'
E que seja assim, abundância de chuva para que molhe a terra da criatividade e que brote novos projetos. Que crie correntezas para remover pedras do caminho e que abra novas possibilidades, que meu ano seja inundado de coisas boas, de aprendizagens, com a certeza que depois da tempestade vem a bonança.
Muita chuva a todos nós!

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