sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sambaberto para poeta Diego

Recebi um e-mail de um amigo, indignado com sua atual situação, pedindo que repasse sua crônica. Sensibilizei por passar pela mesma situação do meu amigo Diego Alemão. Por isso, abro a roda fazendo baticum e deixo-o fazer seu samba solto:

TORRES: PALCO DE UMA TRAGÉDIA SOCIAL 
Torres é conhecida por ser “a mais bela praia gaúcha”, devido ao imenso conjunto de belezas naturais que possui – rio, mar, duna, lagoa, morro – e, também, devido às maravilhosas casas que margeiam sua orla, fazendo de Torres a “Bervely Hills dos pobres”.Dos pobres!, pois, aqui, a maioria da população é de baixa renda, os ricos, donos das mansões, são juízes, jogadores de futebol e empresários bem sucedidos que moram na capital do estado ou no centro do país, não são torrenses legítimos, são turistas que vem pra cá passar um final de semana – no inverno o bairro dos magnatas mais parece um deserto, por onde só circulam gatos e cachorros perdidos.  No verão, em contrapartida, a população chega a triplicar, passando dos 35 mil habituais para mais de 100 mil habitantes, ou turistas. Então, como era de se esperar, a oferta de emprego cresce desproporcionalmente, superando a demanda por vagas. É possível escolher onde trabalhar; já fui garçon, atendente comercial e vigilante, no próximo verão pretendo trabalhar como  padeiro, só para aprender a fazer bolos... É uma pena que esta situação de pleno-emprego se sustente por tão pouco tempo, se invertendo no inverno. Durante os três meses do verão – dezembro, janeiro e fevereiro – o setor privado emprega toda a mão-de-obra disponível, já nos outros nove meses do ano a taxa de investimento se reduz drasticamente, tanto que cada vaga é disputada por pelo menos oito candidatos, sendo que o salário oferecido é o mínimo. Assim, desenvolveu-se em Torres a chamada “cultura do urso”, que diz “absorva no verão a gordura que irá lhe aquecer no inverno”.A prefeitura de Torres seria um dos orgãos capazes de reverter a imensa tragédia social, consequência do desemprego, experimentada anualmente pela belíssima praia gaúcha. Mas, de que modo isto seria possível, se, depois de dez anos, o prefeito abre um concurso público oferecendo apenas 80 vagas? Seriam 80 vagas sufientes para absorver dez anos? Obviamente que não. Para absorver os profissionais que se formam semestralmente seriam necessárias 80 vagas por ano. Neste caso, supondo que Torres fosse uma criança de dez anos de idade, faltariam 720 vagas. Os políticos da cidade argumentariam que nenhuma prefeitura do Brasil seria capaz disto. Eu responderia que nenhuma prefeitura do Brasil seria capaz de levar tanto tempo para organizar um concurso...De qualquer maneira o que mais indiguina não são as 80 vagas, mas a forma como elas estão distribuídas. Não há vagas para vigilante, não há vagas para serviços gerais, não há vagas para motorista, não há vagas para servente... será que a prefeitura não precisa destes profissionais? Para os professores do ensino fundamental, mais especificamente, de História, Ciências, Geografia e Português são ofertadas apenas quatro vagas, uma para cada área. Em compensação, há 60 vagas para professores de educação infantil. Mas, quem cursa a pré-escola não estará, em poucos anos, cursando o ensino básico e, logo em seguida, o médio? Quer dizer, parece não existir um critério na forma de distribuição das vagas. Isto é um indício de fraude... A título de comparação, quando o marido passa a levar o celular para o banheiro, isto significa, na maioria das vezes, que ele não deseja que a sua esposa atenda-o.E não para aí. Também não há vagas para médico dentista, e nem para advogados, sendo que em Torres há uma universidade que forma a cada seis meses mais de uma dezena destes profissionais. Isto é, não existe relação entre políticas públicas, mercado de trabalho e instituições de ensino. Deste modo, a mais bela praia gaúcha vai se tornando um faroeste, onde a expressão “salve-se quem puder” soa forte como um eco.Sem emprego, as pessoas tornam-se marginais. O estudo, em Torres, não é suficiente nem para pagar o aluguel. Neste caso, se o indivíduo não possue uma família que o ampare financeiramente, ele se vê diante de três alternativas: ou se torna usuário de crack, matando assim a humilhação sofrida pelo desemprego; ou se torna crente, e passa a vender doces no comércio; ou vai embora daqui. Muitos dos meus amigos foram embora daqui, para cidades como Criciúma, Caxias do Sul e Porto Alegre, onde, bem ou mal, ainda se consegue um estágio.Estaria Torres condenada ao abandono político?
Diego Araújo da Rosa Pereira.

6 comentários:

O Modica disse...

parabéns, belo desabafo.
mas muito do problema não está apenas na prefeitura que não da jeito nisso. Também está entranhada no cérebro semi-inerte do comerciante que ganha 10 mil reais em uma unica venda e da um salario minimo pro empregado no fim do mês. Tudo desmotiva - desde a cidade abandonada até os patroes "trabalha e cala-te", fazendo sempre as mesmas coisas da mesma maneira infame.

Diego. disse...

A idéia de um mundo melhor passa necessariamente pela política. Neste caso, o jovem deve se interessar por futebol, por música, enfim, pelas “coisas da juventude”, e, também, por política. Caso contrário, o destino do processo social, do qual somos agentes, ficaria a cargo de uma meia dúzia de socialites. A juventude deve representar o povo!
Um abração Luís, Diego.

Anônimo disse...

sou d Poa, acho as pessoas daki muito acomodadas, teria q ter movimento, união, manifestação, panelaço, barulho, imprensa, divulgar à nivel de imprensa, tv a situação do povo, do jovem sem futuro nenhum nessa terra. logo q vim morar aki, vi q a única coisa q resta p o jovem q mora aki, é ser peão de obra ou pescador!!!! Acho q deveriam se organizar e bolar uma maneira de botar isso q tá no blog no "ventilador", divulgar a "ilusão" da mais bela praia ohohohooh, q tem facul, mas não tem futuro nenhum. Aliás se houvesse uma boa administração dessa cidadezinha, teria solução, mas eles querem mais é botar o dinheiro no bolso. Se tentarem fazer algo, contem comigo, tenho idéias legais, e pessoas conhecidas na imprensa em Poa, o lance tem que ser por lá, pq aki tem a "máfia torrense", além de que: se dá bem quem é torrense e tem NOME e GRANA!!!

Rodrigo Joel disse...

O ciclo vicioso perdura. Nossas ruas tem o mesmo tom desde que eu atravessava a cidade para meus primeiros anos escolares. Enquanto não houver consciência política, nada mudará. Enqto nada mudar, comprar-se-á voto a preço de pão, a butijão de gás. Pagos com mentiras repetidas de velhos conhecidos.
Enqto os mais mobilizados são obrigados a abandonarem a cidade, gostando ou não, a maré não muda.
Em nenhuma cidade se vê tanta desordem na administração, tanto cabide de emprego, tanta gente despreparada alcançando seus lugares ao sol de um inverno triste a muitos.
Pobre Torres. Um balneário que poderia ser uma majestosa cidade a beira-mar.

Anônimo disse...

não sei se é vero, mas q esse tal aí de Alberto, Prefeito, tá um tempão no poder, CARGO VITALÍCIO? Isso é coisa do passado longínquo, esse cara tem q sair!!! Administração péssima!!!

aqus disse...

muy bueno.
acabo de llegar aqui por tu facebook, ojala esta situacion se revierta, que bueno que alla gente que se encargue de hacerlo publico, y qe una como yo, "en otro universo", y a 1400km (por ahora, pronto a unos metros de esa hermosa playa gaucha) pueda enterarse de como son las cosas realmente. me gusta ese compromiso social.